I
Tudo depende do destinatário. Mais que a sua existência, a sua capacidade de compreensão. ( acho que atrás errei na pontuação; culpo o teclado, a causa é a falta de um possível jeito que vêm da recorrência que já não existe). De que nos serve usar a escrita se a semântica não é partilhada? A das palavras claro. Espera-se a subsjectividade na pintura.
Passaram mais de 20 anos desde a primeira vez que usei isto. De lá, para cá, podia ter investido em bitcoin, ter comprado acções da apple. Tudo coisas mais simples do que tentar escrever coisas que a algúem há-de interessar e, obviamente também pela minha condição geográfica, provavelmente mais rentáveis. Escrevia por exercício, pela necessidade que a fobia me trazia de me distrair do espaço (ou carruagem) onde estava e de me exprimir, dada a incapacidade de comunicar com os outros que, entretanto, melhorei, impingi e eliminei.
Hoje a minha irmã falou-me disto. Pediu que lhe explicasse o texto 2º texto anterior a este. Começa na I parte por, mais uma vez, justificar a minha falta de vontade de escrever por não ter quem me entendesse. Naquele caso concreto repeti o que neste primeiro parágrafo aponto; claro que mais dramático. Segue-se uma confirmação do que ainda hoje sinto e que naquele momento se encentava.
Quando se está bem não se cria. Obriguei-me a acreditar nisto e este pensamento fez com que eu procurasse sempre situações que me anulassem para me expandir. Esqueci-me de coisas tão simples como quando comecei a desenhar ou a pintar: a descoberta de um lápis de cera na mala que a minha irmã deixara de usar. O complemento à escrita que, tantas vezes, nos falha. A forma que cresce no papel. A acidez de um adolescente farto do mundo sem obrigar o mundo a fartar-se dele. Escrevia, pintei o que a palavra não permitia, fotografei o que quis preservar para além da memória, pensei para e por mim tanta coisa em tantas formas e feitios.
Os últimos meses têm sido marcantes para mim pela capacidade que tenho de apreciar o bom. Tal como o estímulo fraterno que me foi dado. Voltei a escrever. Fi-lo de uma forma não choninhas. Relativamente estou mais feliz. Se não escrevo, é porque hoje falo e, por mais que lhe custe, com ela - aquela a quem dedico aquele outro texto - sempre a me ouvir
II
Provavelmente vou-te dizer que te escrevi isto quando
chegar a casa. Já me conheço meu amor, mesmo que pior
que tu. O que é teu apresento-to sempre, o que é meu
Felizmente - nao sei como - já me apercebi que aturas.
Literalmente não sei o que escrever, olho à minha esquerda
tenho uma tesoura, uma caixa de um cartão SD e um cinzeiro
cheio de cigarros que deveria ter fumado contigo. Ai suspiro
(queixas-te que já o faço pouco) poucochinho
é o tempo que partilhamos. Porque estou sempre nisto
Trabalho, tabalho, trabalho, trabalho, é o que me hierarquiza
o mundo que não entendo, o valor de um indivíduo
mas contigo só quero e espero o tempo nulo.