Mais um. O meu primeiro. (brainwasherpt@hotmail.com)

segunda-feira, outubro 06, 2014

Acho que nunca teve uma título (encontrei-no num caderno antigo)

Já não conheço as a folhas, não escolho as palavras
do modo súbito de antes, já nem bebo
o mesmo por uma questão de preferência.
Escrevo ainda sem pensar no texto;
Desabafare é o motivo de tudo.

I

Os irlandeses falam de hitler, movidos pela indiferença
geográfica ou temporal. Hoje ninguém se arrepia;
as cinzas que existem são consequência do que fumamos,
Falam. Não conversam, sobre o sentido de um símbolo
Direito, sinistróide, ou com bolas a acompanhar.
Hoje, ou hoje em particular, já não existem segredos
todo o grafismo serve para vender.

Chove, o português que ia a sair hesita,
Fica a falar também. "Não vou conduzir, diz"
o sinistro agora é outro.

II

As irlandesas cocupam o balcão, por ofício
de um lado. Do outro por aparência, lê-se
Dédalo já se afogou, é não o [ ]
Falam agora com eles, eu observo. Não desenho
escrevo. Não aproveito a gramagem do papel
irrito-me agora que o sei, perde-se o tempo.
Metade do bar está vazio, é vespera da véspera de natal.
Pedem mais um copo, pedem outro. Folheia mais
e mais e mais outra página. O que farão amanhã?
Serão mais felizes que eu? Eu espero-a mais um vez
anseio por ouvi-la e nem há uma hora partiu.
Será que não escrevo por causa dela? Será?
Pinto mais agora que penso nisso. Será por não falar
tão bem português? Falam de casa agora.
Está na hora de ir.

III

Olá, é a vez do três, sou o 4º freguês
deste estabelecimento, o msmo que ficou
com mais vinte cêntimos que devia.
Não disse nada e fui na conversa
Irrito-me com outras coisas.
sou boa pessoa quanto tenho
paciência.

IV

A pintura assume uma posição preponderante no meu trabalho artístico simplesmente por causa da sua natureza individual. A vontade de criar expande-se a outros suportes mas todos eles necessitam de um apoio, colaborativo ou subordinado, que limita a sua espontaneidade; A escrita também partilha a natureza da pintura, a nível processual, mas o seu objectivo é ainda mais egoísta por ser maioritariametnte a forma escolhida para um desabafo, não a pratico, reajo com ela a qualquer infortúnio ou a uma inesperada tristeza.

Ultimamente tenho discutido com outros e pensado no significado de arte. Ao colocar a questão explicito que peço que me digam o que ela é e ninguém me responde afirmativamente, cometendo a conhecida falácia da negação. do pouco que percebi toda a arte exige uma lógica ou justificação, uma folha de sala. Nunca a fiz ou pensei antes da obra estar concluída, e quando a obra faço não mais penso que em me divertir, ou em criar algo que para mim tenha significado ou ressonância. Consome-me o receio e que nada do que faço seja considerado Arte, fico triste por eu que faço não saber responder a isto.

Continuo a fazer apesar de tudo; cada vez mais me apetece expandir para outros campos. Mais que pintar ou filmar corpos dirigi-los, assumir e ocupar o espaço com o que me consome e ocupa a cabeça. Mas quero partilhar este trabalho, não pode ser só meu. O telento tem  limites que tocam nos outros em meu redor e que me complementam. Quero fazer parte de um grupo, encontrei o que mais me faltava, ela que me inspira, que me aprova e critica e o facto de estarmos preparados um para o outro é o sinal que me faltava. Disse um ano. Que um ano era o tempo que faltava; está quase, mesmo quase e as pessoa começam a orbitar, o grupo está a reunir-se.


sexta-feira, outubro 03, 2014

Em joanesburgo, em áfrica, longe de casa, o pessoa e a VR são mais ou menos daqui.

Intro

Só sei se este texto vai ser um poema depois da primeira vez que eu carregar no botão "enter".
(enter)
(enter)
(enter)
(backspace)
não faz lógica poética ou simbólica, nem a didascália,
nem a alegoria que utilizei para começar este texto.
Infelizmente faz para a maioria. Faz para mim quando não penso.
Procuro significado não no que existe, muitas vezes,
tiro conclusões erradas do que tenho. Avalio tudo
o que mais importa com o menos importante.

Uma coisa é certa, escrever é como andar de bicicleta,
Não se esquece, mas, se pararmos uns anos, já não somos
capazes de fazer a montanha como uma prova.

I de quantos hão-de vir.

As pessoas que desenham pachachas com letras
têm graça, mas não sei se são poetas. A ASCII art
era uma forma de pornografia primitiva, a malta
masturbava-se com mamas feitas com cifrões e outros símbolos
comerciais. Tem a sua ironia.

O processo de criação terá sempre de ter um vazio,
ou um momento em que há-de transbordar.
A arte se existe tem de implicar um equilíbrio
entre o excesso e o nada. Poucos são aqueles
que passam por entre eles sempre,
e desses ainda menos são aqueles
que por um dos extremos nunca passaram.

II ao que o título se refere.

A primeira vez que conheci um Sul Africano, ele até
ficou meu amigo. Era um tipo diferente que parecia ousado
Tinha calças com padrões estampados e um ar mais punk.
Achei que devia vir de um sitio interessante, supreendeu-me mais
à medida que o fui conhecendo do que no dia em que vi
que não era preto. Era magrinho como eu e alto, os pais eram
moçambicanos originalmente. Tinhamos as raízes e porte semelhante
Algo que antes da república era claramente diferenciador.

Crescemos em sentidos diferentes. Foi ao ginásio e alargou.

Hoje estou em Johanesburgo. Estou na sala dentro da sala executiva
a sala para os executivos fumadores. Estou atrás de um vidro,
o que dá para a ralé que não chega a ter um C no cartão de embarque
ou um cartão dourado que se carrega por consumos de gasolina
diferenciados pelo tamanho da poltrona, e de um outro
dos que não vão implicar um custo tão elevado à Saúde pública.
As ruas daqui são limitadas por muralhas que encerram as casas
electrificadas para fora. As janelas dão para muros, os muros separam
os carros têm uma campaínha própria para deles não se sair
quem caminha tem ódio na cara, os que têm a cara lavada
simplesmente sem paredes não se veêm. Johanesburgo é um lounge
Johanesburgo é um lounge onde se dá dinheiro a alguém que limpa retretes.

O meu amigo não era livre. Não foi a sua vida que me inspirou.

Não foi a sua vida que me fez escrever melhor.

Quando a V. chegou, de acordo com ela, é que se sentiu livre.

Aquele em que concluo que afinal tudo estava ao contrário - III

Quem vive atrás de grades tem medo
de andar nas ruas, livre. Não cruza olhares
não sabe ver para além de um espelho
Feito de cimento e da consanguinidade
que um nível salarial premite.

Tinha medo o menino por antes medo ter tido.
Procurava um motivo porque antes os tinha
Deixava de querer ou forçava para evitar a rejeição.
(Cantado)
Ai que parvo,
Ai que parvo,
Ai que parvo é este miúdo
Ai que parvo
Ai que parvo
Ai que parvo
nunca há de ser graú ú du.

A verdade é que é linda,
acho que nunca me senti assim antes
e isso é estranho para o sistema
como deve ser comer algo pela primeira vez
e que depois ficamos com vontade de comer sempre.

Merda, soou mal

(Cantado)
Ai que parvo,
Ai que parvo,
Ai que parvo é este miúdo
Ai que parvo
Ai que parvo
Ai que parvo
nunca há de ser graú ú du.

Quando a vejo a escrever focada no ecrã do seu
pequenino laptop encarnado. A carregar letra a letra
com os indicadores no teclado a um ritmo lento
tão lento quanto a vida deve ser mesmo que pressa
tenha em levar a tarefa a cabo, normalmente sempre tarde
dá-me vontade de lhe emprestar o meu talento ansioso
de preencher qualquer documento electrónico em branco.
De lhe dar mais um momento de calma, de afecto.
Quando a vejo a escrever fico a vê-la
fico no sofá deitado feliz.