I
Dá o tempo chuva como se água faltasse para beber,
ninguém liga nos seus passos
acelerados quando o tempo é mínimo.
Passa um lá em baixo que a maioria já nem pega,
quem à frente vai passa gozando por não nos ter escolhido
e espero e espero num ritmo cada vez mais taquicárdico.
Ah o peito dói sem o alívio das pernas.
Até que outra chega e relaxa o corpo por 2 metros.
mesmo estando cineticamente apertado
mas também que interessa? por pouco sentir
saio a seguir, lá fatalmente hei-de esperar de novo.
II
Compõe-se um texto de parte, de nada, ou de uma mistura dos dois, resultando ambos do nosso dia-a-dia. Quer se queira quer não o sujeito não se liberta do que o liga ao mundo e, se escreve, só o faz para se alhear dele ou, em alguns casos, para o reverso. Partilha a sua opinião, o seu estilo, o seu processo de sentir por mais "inverdadeiro" que seja. Quem opina sente o mundo, quem [ ] também quem sente é humano, logo parte de um mundo não só dele.
III
Por vezes penso seriamente nos meus amigos. A amizade tem muito que se lhe diga, e quando nela falo façoõ só depois de adornar o meu raciocínio de umas [ ] que induza o riso nos outros, que não os meus amigos porque soletro (sim faço-o desta forma para não perder pormenores) situações deveras hilariantes.
Claro que nem todos são hilariantes, claro que nem todos são ridículas, claro que há casos em que é mais evidente. P-E-D-R-O; peço desculpa, escrevendo é mais ridículo o que se escreve do que aquilo de que se escreve sobre.
Recomeçando. Não fode, é triste é gordo mas não feio, desprezado mais por ele do que p'lo mundo, não fuma cigarros mas fuma charros porque fazem esquecer. O que é mau, melhor péssimo. O rapaz já nem sabe o que é a luz, o que é real ou não. Ele até parece não ser de cá e cá é o mundo. Fala, fala fala mas não vive. Quado digo que vou deixar de fumar sou como ele.
IV.a
Dá-me um cigarro lídia,
Mais não quero neste instante
dá-me, fumo-o e vais-te
Acalma-me que me enfureceste.
Tenho um vício, sei-o
não o nego, não sou fraco
Dá-me outro, quero mais
A fúria suplante a calma.
Pouco a pouco acumula-se
nos pulmões cinzentos a mente branda,
e á volta do corpo o manto
não é espesso eu te vejo.
mas quero esquecer e mais te peço,
do que ingrata, inocente me o'freces
desse maço com fim certo
e mais próximo do que o meu é.
IV.b
A névoa crescia no quarto
com o ofegar de sentimentos
ninguém falava de compromisso.
IV.c
Como dizia o sinal em mim
Puxa
Tenho regras absurdas
e tu sabes
mesmo que já não te importe.
Sorte?
Quem não a teve afinal nestes dias incertos?
Restos que comemos com a humanidade que nos falta-
E penso mais um segundo que se soma em instantes
e estes quando passam fazem-no em horas
Dias, meses até serem histórias.
Partimos deixando só parte de nós.
Empurra
Empurra
e nada mais te peço.
Vem ter comigo afastando o que sou.
E muda, muda, muda tudo
deixa-a ir, a ideia que me define.
IV.d
Integrar,
assumir em nós
tudo aquilo que se ache certo
ou não.
Deixar.
perder o que somos no tempo
Fumar,
sugar o cigarro.
Passo a passo
Deixar de ser.
IV.e
Perdemos o significado num filtro
numa beata que arde sozinha
ou entre arte que já ardeu ou arde.
Usamo-nos
levamo-nos ao limite do que somes
sempre em nós talvez entre outros
pequenos voos que aliviam o peso da terra
Esperamos
com a certeza que é certa
na incerta certeza de que vai chegar.
IV.f
Santo é quem não é mártir,
humilde é quem é santo
vamos de quebranto
somos a nossa graça.
nada é o que não é tudo
e tudo mais por vezes é nada
não fica o santo fica a marca
sem tudo a marca é nada.
V
A tristeza que cresce
cada dia que passa
A minha vida tece
tornando-a farsa
Finjo sentir alegria
Num mundo de dor
Finjo que quero a vida
Quando lhe sinto rancor.
VI.a
Fosse a escrita a lápis de carvão tão fácil como afiá-lo com este afia comprido, e creio que a um preço bastante competitivo, num bazar chinês. É natural é óbvio o mover do pulso que segura o lápis e a firmeza do que suporta o objecto, neste caso, de plástico.
Quando escrevo, independentemente do que uso para o fazer, tenho de pensar de forma que a mão reflicta com linhas traçadas de um modo, por vezes, decifrável o que penso. Penso, não sai de mim como quando preparo o carvão, um lápis tem mais essência que a página que escreve.
O senhor padre e por vezes meritíssimo juiz daquela localidade que, mesmo sendo beirã, não se sabe ser alta ou baixa, estava surpreso com a atitude de seu sobrinho. Ao contrário do seu tio joão nunca se mostrou ser um homem de fé e embora julgue no seu ser, acabava por ser só julgado na vida; como sabe quem tem olho observador, naquele tipo de vila nós só somos parte dela e , tal como a mão do sóbrio sobe sempre onde está o nariz, "o senhor padre", por ser a cabeça, ainda sabia mais e, quem não se comportava de acordo com o seu juízo, tal como como o corpo dói na parte que, por excesso, de zelo ou virtude, se magoou, recebia um castigo que podia ir de um rosário, até à santa, que, por ser ela a dar, é melhor.
VI.b
O túnel branco era o mesmo de sempre tendo só o azulejo, ou lá o que aquilo fosse, ganho uma sujidade estranha desde a primeira vez que aqui estive. Mais um ia, mais gente a seguir em frete e como sempre, sempre no mesmo sentido.
Minto, não é só a sujidade que mudou, já havia e crescreu , é mais correcto; acrescentaram-se sinais que proíbem o fumo individual e, para piorar a coisa, instalou-se um sistema audiovisual que, se em termos visuais às vezes surpreende, emu ainda só tive vontade de queimar naquele sinal vermelho com um cigrro acesso cortado numa proporção que não adivinho no interior de um círculo que não é círculo é uma coroa.
Merda.
Hoje foi um dia diferente. Se chorasse de riso com a música de fugitivo que sendo doce ou não só me dá gula quando a barriga não está cheia. A musica que se seguiu, um solo de piano tocado e cantado por cima por um triste homem provavelmente encornaca ou que assim quer parece por uma questão de Marketing, fez-me chorar por outro motivo. Tdos à minha volta estava envoltos por uma triste que, embora fosse própria, era humana, O preto com o seu andar de bairro e calças que, como as minhas, caíam embora por vontade própria; a mãe adolescente ou que nesse estado conhecera a maternidade; a gestora ao fundo que confundi sempre comalguém que conheço. Obeservava depois olhando p'ro tecto do túnel em que me encerrava percebi, no relexo que não via, que a tristeza que percebe mesmo que deles era minha.
Não podia fazer nada. Seguia as palavras que tentava compreender em vão cantadas por algúem mas que não sabendo sabia serem tristes. Até que o metro chegou; deixei de ouvir. Entrei e fui carregando o de todos, o que só foi mas em mim.
VII
Passam os dias lentamente,
é de manhã quase hora de ir dormir
E ela um pouco mais longe de mim.
O horizonte nunca é o mesmo.
As nuvens por mais iguais que sejam não são as mesmas.
Por mais que carregue um nome
ele morre e trago aquilo em que ele não diferiu.
Fumo talvez o meu último cigarro
Talvez o primeiro de uma dia que p'ra outros começa.
Têm pressa mas rua ainda nada se ouve.
Pouco-a-pouco o sol ergue-se.
Apagam-se o mínimos ainda acessos
A nau há-de ir, a mulher há-de acordar
há-de haver o dia em que não desperte.
VIII
Seis da manhã quase a chegar a casa,
Certo com as horas por cada beata
que no cinzeiro eu já acumulei
Pelo que na noite eu de mim deixei.
Entre copos [] e merdas desnecessárias
sempre achando que o corpo não pára
As palavras que larguei que entretanto esqueci
que de um só trago eu ergui.
Ironia, como o resto só se perde em mim
Ironia como o resto só se perde em mim.
Seis da manhã estou mesmo a chegar
espero que o papá não notar
carrego no botão ou não para abrir o portão
n n n n n n n n n n n n n n n
que faço agora?
Daqui a nada já são horas.
IX
triste sim triste é como me vejo
por que é que será que nunca tenho
coragem para aquilo que quero
um dia me aproximo, desespero.
X.a
Inegável o meu cinzento neste mundo,
neste mundo tão cheio de côr
eu destoo não contrato.
O contraste implica o que ele é
eu sou o que sou e não fico
bem ao lado do resto
por simplesmente não bem ficar.
Que não presto há quem o diga
mas o que algo vale é o homem que o diz
Tenho uma côr
o seu valor
só a mim a poucos interessa.
X.B.
Cinzentos são os outros para mim
o casal como seu chinfrim
a criança preta com o lenço branco sentada
a sua mão cuja vida passa
como a passagem ao fundo
deste trem velho mas que por novo passa.
Têm todos a sua criada,
têm todos o caminho que percorrem
Ficam mais velhos e velhos marcam
mesmo que nvos acabem por morrer
X.c.
O velho não mudou a sua expressão
da forma triste que o mundo encara
encarado pelo mundo ele é;
sua esposa honrada beata
não mexe um sorriso porque é Domingo
hoje é o dia em que ele sofreu.
ó cristo, ó eterno Deus homem,
quem te tornou por instantes divino?
O teu povo de estúpido vive sozinho,
foge com o sangue que nas mãos lhe meteste.
E a consciência
que mais que pai é mãe nos castiga
Humana mas divina relíquia
Adormecemos à noite é o mesmo.
E no dia dia em que adormecermos
fica a esperança que não mais voltes.