Mais um. O meu primeiro. (brainwasherpt@hotmail.com)

quarta-feira, outubro 19, 2011

Estou rodeado de gente que não me conhece e, ao invés de me assustar, sinto-me livre como a minha vida normalmente não me permite. Aqui nem tudo se resume a um conjunto de ruas que consigo de côr nomear, a pessoas que me conhecem, a sítios onde consumi, a sítios onde fui consumido e a uma cama que por milagres contraceptivos não iniciou dinastias.

O que somos e o que seremos só depende de nós, e o que nos rodeia é o principal factor que nos permite concretizar o sonho que também nos permite ter. Em Portugal cada vez mais sinto que o que me importa já faz parte do meu pequeno grupo; a inveja que define a maioria dos portugueses , não pode ser evitada em estadias prolongadas já que eventualmente terei de conviver com gente que não me conhece mas acha que sim, e daqueles dos quais só por acaso saberei o primeiro. Saio e tudo é novo, não existem opiniões pré-concebidas e, como sou estrangeiro, por mais que algo se estranhe será justificado pela nacionalidade que, por sermos periféricos e pequenos, para a maioria é uma surpresa. Só temos de o fazer bem feito para mudar caso exista uma reputação pior mas mais viva que nós.

Importa é salientar que importamos, quando regressamos à terra, um conjunto de referências que, se implementadas com sucesso, poderão impactar, por ela ser pequena uma grande proporção de conterrâneos. Não se deverá ter a noção do absoluto nesta análise; lucros à parte influenciar 1 M de pessoas em Portugal implica que 10% da população (aproximadamente) se "alterou" e esses 10% são mais baratos e acessíveis que a maioria dos 10% do mundo. Chegar a eles já é outra coisa, a forma como se o faz. Temos de ter em conta que alterar alguém já maior é difícil, deverá pensar-se nos jovens como principal fonte de mudança, e na nossa vida e tempo como o principal investimento para assegurar a melhoria da vida e do tempo deles neste mundo.

O que ensinar também é algo que terá de ser definido; tal actividade não será levada a cabo por mim mas creio que se deveria focar mais o ofício, o trabalho do corpo e mente, principalmente antes da maioridade. Será crítico desenvolver, enquanto há tempo, ferramentas mesmo que depois elas não sejam utilizadas para aumentar o leque de escolhas e de possibilidades desde tenra idade, e tornar mais fácil a sua recuperação quando um indivíduo que já se encontre na fase adulta assim o desejar.

Certo é que hoje esta gente terá um impacto limitado mas também é certo que o tempo lhes poderá trazer as posições necessárias à promoção da mudança geral. No entretanto o mínimo requerido socialmente para o desenvolvimento terá de ser complementar e parte de qualquer formação; caso contrário, nem um nem os outros estarão praparados para o que lhes é distinto. O choque terá de chegar por decisão e nunca por condição.

Sinto-me bem aqui. Sou diferente ao ponto de não me possuírem tendências de normalização. Atá a falar sou outro; como não sou daqui não me exigem o que exigem aos outros deles. Quem aqui me conhece faz-me sentir como um indivíduo com um valor que é óbvio; quem não me conhece não se assusta. Cada dia que aqui passo me faz voltar mais "eu próprio", e é desse sentimento que surgirá a minah criação para o mundo e, por assim eu ser e ser de facto, o que eu fizer há de ser único, e assim o que me rodear também o será.
Hoje sonhei com os meus sapatos. Ficavam rotos e caía a sola, senti vergonha, ou algo parecido, não sei bem, mas custou-me, mais do que não ter nada nos pés, ter algo incompleto, errado.

Depois acordei, e acordei tarde. Tenho de me acostumar a despertar cedo, a deitar-me cedo, a fazer tudo a temp e horas e, acima de tudo, a pensar não em demasia e ser menos perfeccionista. Incomoda mas por vezes serve, talvez tenha de ser assim.

"Don't think twice it is alright", dizia o bob. Por alguma razão o disse.

terça-feira, outubro 18, 2011

Há muitas formas de voltar a casa de entre elas destaca-se não voltar a entrar.

Caríssima saiu-me esta noite estranha, pois, por mais que controle os dias p'lo que percorro e faço ao longo deles, no sonho chega, por vezes, tudo, ou parte de, o que evitamos. Ainda por cima tenho a mania que sou profético, e isto só piora as coisas porque, como tu bem sabes, nunca me lembro bem do que vi; estou certo que tu estavas por lá, mas já deves ter percebido pelo tom do texto. Também me lembro de um parapeito; de um corpo despido; de me preocupar outra vez; de alguém que era um jockey de discos com um nome com G; da sua lista de concertos internacionais; de acordar.

Fui tocar a primeira música que fiz para a minha guitarra nova e, pela rimeira vez, chorei no refrão. Sonhei, e preocupei-me de novo; insisto. Os sonhos não batem à porta à espera que ela se abra. Eles surgem e pronto já estão na nossa sala a ouvir os nossos discos e a afagar-nos o ego que também podem destruir.

Agora são horas de ir trabalhar, de apanhar um táxi que, por ser hora de ponta, vai demorar a chegar. Há uns meses acordar-te-ia, porque me pediras um despertar para uma vida mais saudável, mais crescida, ligar-te-ia e no meio dos nossos medos teria um motivo para sorrir. Não o faço, por mais que me apeteça. Nunca hás-de acordar, p'lo que sei e vejo, estás cada vez mais adormecida nesse teu mundo que embala como se fosse só isso o preciso. Não o faço, vou trabalhar, escreverei mais noutro dia.

segunda-feira, outubro 10, 2011

Epifania no taxi a caminho do trabalho.

Procurei sempre distinguir aquilo que crio daquilo que faço, para me alimentar, empurrado pelo sistema que critico mas que, por essa atitude existir, também acabava por se perpetuar comigo. De dia assumia o ar lavado e contornado por um nó de gravata cada vez mais perfeito, apesar de instintivo; de noite só a imaginação me limitava ou uma namorada que sofresse de homofobia ou de um gosto intransigente. O propósito era servido: quando cinzento estava só uma pessoa mais sensível era capaz de me ver como alguém fardado por obrigação, quando à paisana todos assumiam que algo de artístico sustentava o meu ser. Ou uma ou outra portanto nunca a sua intersecção.

Uma pessoa com quem dormia disse-me mais de uma vez que gostava desta minha dualidade à la Clark Kent; sinto hoje que foi das coisas que mais a fascinou e ajudou a promover uma cisão da minha personalidade entre estes dois extremos aparentes. Agora que já não durmo com ela, e existem vestígios cada vez menores da sua presença no que me rodeia, tenho vindo a pensar diariamente, no tópico deste texto também promovido pelo peso crescente de pessoas que tanto entendem do meu trabalho como da minha paixão criativa no meu quotidiano. Partindo de conversas bem argumentadas e do respeito claro que tenho pelo que me dizem sinto uma alteração clara na minha auto-avaliação.

A limitação de uma pessoa a uma determinada área e às perspectivas associadas à mesma reflectem-se na qualidade de uma obra/ vida, que por consequência terão de ser adjectivadas exactamente da mesma maneira. O sistema educacional não promove formas de pensar holísticas desde uma idade tenra e, caso a família não seja minimamente abastada, as alternativas extra-curriculares terão uma presença limitada no currículo de um futuro indivíduo e, consequentemente, tudo o que é considerado alternativo pela maioria, neste sistema instruída, sendo o alternativo cultural (música, teatro, cinema...), não fará parte dos interesses da massa para além do voyeurismo permitido pelos meios de comunicação e produções de fraca qualidade promotoras de sonhos consumistas.

Do sistema actual acabam por se manifestar dois extremos que indicam a separação entre a razão/ciência e a emoção/ciência social quase por inteiro; a primeira grande escolha individual sob o futuro de um indivíduo, aos 16 anos, implica que ele tenha de escolher entre a aprendizagem de uma sensibilidade artístistica, desde a sua história às distintas maneiras de a manifestar, e o desenvolvimento de uma lógica matemática e um conhecimento físico do funcionamento do mundo. O irónico deste tipo de pensamento é a sua contemporaniedade já que historicamente a cisão entre a ciência a e arte não era vista como um dado adquirido; no Renascimento era clara a sinergia que existia entre o que hoje é antagónico bem como os avanços que foram permitidos por estes sistemas que só hoje não são complementares; os estudos de geometria de Duhrer, os estudos anatómicos de Da Vinci, os estudos de materiais que cada pintor empreendeu para assegurar a sua posição numa corte que pagasse os seus serviços.

O pensamento toldado em categorias não intersectáveis também se reflecte em manifestações sociais que automaticamente se excluem. A diferenciação entre quem cria/ sente e quem pensa/ trabalha é uma certeza do paradigma actual do mundo desenvolvido; contrariamente à fase referida há pouco, em que o artista assumia uma posição relevante na sociedade e era considerado um membro integrante da mesma, nalguns casos até um factor diferenciador no poder de um reino/império independentemente da sua especialização, hoje ele é visto como alguém que à margem dele vive e cuja subsistência é assegurada ou por um estado social que se obriga a participar na área cultural, com o intuito de a integrar na sua estrutura social, ou por uma estrutura de agenciamento, galerias, que, no limite, se cingem, por uma percentagem do valor percebido do artista, a garantir-lhe um meio de comunicar/ chegar a um grupo social que, por não o entender, necessita de uma confirmação de que aquilo que ele faz é "bom" e merece o seu "investimento". A não integração reflecte-se num desfasamento de sensibilidades, na falta de entendimento de um sistema, por ser composto por equações não complementares, e daí resulta um produto que não serve verdadeiramente a alguém que não pertença ao nicho que o produz, que não entenda os conceitos ou história por detrás de uma construção artística. Tudo isto desemboca numa marginalização da outra parte por cada parte e na necessidade de enaltecer estas diferenças desde a maneira de vestir, à maneira de falar, às dietas, aos ideais, às reinvidicações, tudo para que cada um de nós assegure a si mesmo, e a quem o rodeia, que está num dos lados da barricada.

Diariamente saltei de um lado para o outro. Constantemente me preocupei a mostrar uma fracção de mim em função das horas do dia e de quem me rodeava limitando, como a sociedade supra-citada, todo o potencial do que sou. Trabalho com os números do lado que me formou e tenho a necessidade instintiva de me exprimir contra o que está instituído tanto de um lado como o outro. Uso fato por vezes, por vezes cobre-me a obsessão dos meus dias em tinta ou em palavras que junto de uma maneira própria. Sou a soma de partes que geralmente não se encontram e, por essa condição maioritariamente imposta, sou do mais subversivo que há. Num futuro próximo é assim que quero que me tomem, como cada vez mais me vejo, através do produto que resultará da intersecção dos meus lados, de uma sensibilidade estruturada pela forma como fui criado e, acima de tudo, que surge dos estímulos que os meus mundos me dão. Valem-me os valores que por vezes esqueci que possuía, eles são o denominador que torna o aparentemente oposto comum.

Outros há como eu e se depender só de mim que todos se juntem pelo que valem e valorizam. Quando o Grupo chegar, quando o Grupo se mostrar, quando o Grupo fizer um-a-um todos irão ser parte dele.

Vou-me com a base do manifesto.

"A quem fode para criar, não a quem cria para foder"

domingo, outubro 02, 2011

Em madrid há já um ou dois meses.

Eu que sempre fui alguém e alguém que prezou a sua individualidade fui por ela o dela o "de". Senceramente até que fez umas coisas alternativa que eu nunca vi, e uma delas fez e fez outra e desfez.se de mim. Tudo o que fiz acabou por ser por ela; o de até fazia algum sentido. De mim por ela; até saí do verde que alguma esperança ou futuro me dava.

[De ninguém é melhor. Tenho, e quem me tem é. É mais bonito, exige é conhecimento de farmacologia e aquela de quem eu era presumo que não sabe nada disto.]