I
De nada serve chorar mais uma vez
A vida é curta demais para ser cíclica
Há características que só concedo à história.
Lamento muito do que me aconteceu,
Supreendo-me até, mesmo tendo passado
mais tempo que suposto, de coisas que me aconteceram.
II
"Olha rapaz, é a vida.
Goza-a o melhor que possas
mais cedo do que pensas
ficas
caústico e pensativo
como eu.
Já nem sorrio com as crianças traquinas
Sentadas irrequietas ao meu lado"
Acho que é o que o velho me diria
se largasse a bengala
e não tivesse vergonha
de mostrar a sua boca
(já só tem gengivas).
O resto vai no comboio
na linha traçada e certa
Saindo uns antes e outros depois.
Ninguém põe nada em causa,
Tão-se todos pouco fodendo pa tudo.
Ás vezes aparacem uns tipos mais arruaceiros
Roubam usando navalhas como argumento
Ninguém faz nada e as crianças choram
Precoces com o conhecimento crú da verdade.
"o indie que se foda
Os intelectuais de esquerda também
Os tipos do jornal que levem no cú"
- para eles é tudo ao contrário:
Nunca andaram nesta carruagem
Nunca pisaram este chão
Nunca olharam nos olhos de quem sofre
De quem se arrasta no que os leva,
De quem se assusta a caminho de casa
De quem pensa sair antes e fugir
não conseguindo por cobardia paternal
E o peso na consciência dos cornos que já antes a fizeram sofrer.
E o maquinista faz o que lhe mandam
Pára, arranca, arranca e pára,
Não se preocupa se alguém se perde no caminho;
Só os vê pelas câmaras que ninguém respeita
e tende a focá-as nas pernas de uma tipa qualquer
Normalmente com um ar muito rasco
por a falta de virtude nada mais exigir.
É mais fácil acreditar que as fotos da traição
Estupidamente claras, óbvias e flagrantes
São produtos de uma montagem qualquer
Do que na existência de um éden incerto
Aberto somente aos que são rectos na vida.
Não há nada mais certo que esta ou outra linha
Que o seu príncipio, que o seu fim
Mesmo que o horário seja distinto
do comboio o tipo
bem como o seu número de paragens.
III
O que mais me importa é tentar ser sempre um bom rapaz e fazer aquilo para o que fui educado, também de acordo com preceitos que me foram ensinados por quem me educou.
IV
A poesia surge-me, nunca me obriguei a ela. Pensando sobre a minha evolução como pessoa e, por disso depender muito, inclusivé aquilo que passo para o papel, nas alterações, tanto na temática como na forma, dos meus poemas, vejo que partilham estados ou, se preferirmos, paradigmas.
A minha produtividade é constante quando estou só, aumenta seriamente quando conheço uma nova pessoa ou quando dela me separo, e é nula nos momentos de alegria falsa, ou simplesmente conformista. Nas últimas semanas, estando eu só de novo, terminei a última condição; percebo agora que não era a falta de tempo que me limitava a produtividade, esse nunca foi o motivo, vivia era num ambiente que me castrava a criatividade. O irónico de tudo é que foi este mesmo campo da minha pessoa que me colocou na mesma casa, que já antes partilhara, o elemento diferenciador. Simplesmente, pouco-a-pouco, foi-se escondendo num ghetto qualquer sempre que sentia que estava a ser observado por essa pequena (ilegível).
O tempo consome tudo mas ao mesmo tempo que somos levados cresce com ele o semeado até dar o seu fruto, este é também com ele que amadurece.
A agricultura tem muitas coisas interessantes, mas a base para a sua análise terá de ser sempre o fim a que se destina. A inexistência de propósito só permite colher o que ocasionalmente surge, o que escapa às passaradas, às doenças, às intempéries, à criançada; trinca-se o que houver.
Há quem produza para subsistênca e tente colocar em pequenos terrenos de tudo um pouco. Trata com cuidado do que cresce, tem de pensar na despensa que vai alimentar a boca de toda a família; na cebola, no alho, no refogado, na batata. Cada uma das bocas tem os braços que a terra, que um dia os há de cobrir, trabalham e até lá os cansa e nutre.h
Há quem compre a terra que emparcela que produza muito e venda p'ra lucro.
Nenhum dos modos gosta de daninhas e pragas. Tem de se ter cuidado com elas, se surgem podem implicar que se replante tudo de novo. Também existem erros, se queremos batatas não podemos plantar courgettes. Acima de tudo é preciso atenção e carinho e esforço e pensar, todos ao mesmo tempo. Tem de se ter cuidado para não se desgastar o terreno, fazer pousios, depois de gasto já nada mais cresce.
Agora escrevo demasiado, inclusivé coisas sem sentido. Pinto em horas indevidas. Surgem-me na cabeça coisas estranhas e já não tenho medo de um não ou de um olhar [feio]/[reprovativo]. Ponho cá fora o que é meu; sorrio. Há quem goste do que faço, há quem se importe com o que digo.
V
You feel a bit tense, everything is going to be fine. Good Luck. That cl... Essa nuvem que te paira na cabeça dá-te cabo do penteado.