3 da tarde e eu faço sempre tudo igual
Revolvo na cama horas até horas passarem da hora de acordar para o mundo que me dá motivos para me agitar cada vez mais de sucessivo. Rotinas desculpadas por deitar tarde e exausto do que artificialmente nos impomos por assim sermos educados a viver com todo um rol de necessidades alheias a um corpo que, cada vez menos faz algo por instinto.
Até o equilíbrio vem do que nos foi ensinado numa ardósia cada vez mais preenchida por complexidades não naturais que somente existem a partir do medo que exige uma explicação para tudo. Tem carro o homem porque andar parece mal, andar num cubículo partilhado ainda parece pior e defender isto tudo é horrível.
Lembro-me do mar que me acompanhava de um lado ou de outro quando ia para lisboa e voltava para cascais. Tristes eram os dias em que nele nao reparava que nao me lembrava de quando sobre ele trilhei e que com ele nao fugia para longe de utdo num papel por vezes partilhado com que me lesse ou ouvisse.
Subitamente acordo sempre mais tarde do que podia ou queria. Visto-me, lavo o rosto do que a cama e o sono mal respirado marcou. Dou um nó cada vez mais maquinal nas gravatas já marcadas pela minha altura, vejo-me ao espelho e aprovado parto num caminhar tão lento quanto em mim partes se colidem. Vou em frente na calçada gasta pelo meu caminhar mais ou menos comum ao de outros e piso onde tantos outros pararam e agito o braço para entrar no táxi em que tantos outros entraram. Aproveita para colocar a voz com conversa banal e com discussões de taberna ambulante mas com mais vida por ter tantas que aquela que agora é transportada. Componho-me em mim e chego com uma lição aprendida sem tirar apontamentos, chego, chego saio e vou como se me levantasse sucessivamente de uma superfície estranha mas confortável e finjo, finjo, até que dali saio.
Tanto dói e pesa o corpo
Como te estando algo em falta
Transportas-te com esforço
Neste deserto sem água.
Mas vais e pequeno segues
num trilho por eles levado
Parvo como eles só temes
Todo o pouco ensinado.
E em casa chegas eo frio
frio não há por que pagaste
Sorris por pouco do brio
Não tremes e te esfolaste
O aniversário sem aludir a Chagall ou a Álvaro 4/3/10
Pouco falta para somar mais um aos anos que tenho
num dia em que o calendário de bolso de um estabelecimento qualquer
Estipula com certeza como não sendo um dos outros seis
A hora essa não sei não se lembrando a minha mãe
do momento exacto em que com dor me teve
Com o mesmo reflexo com que nasci envelheço
Por entre palmadas mais ou menos óbvias
Expectativas mais incertas que um choro
Ou um primeiro grito de ligarem à tomada um músculo
Que marginalmente por consciência contraio.
Vai-me ligar ao longo de 24 horas alguma gente
um conjunto sempre distinto dos anteriores ou dos por vir
uns terão desejos concretos, outros correntes, outros banais
outros hão-de me entristecer por não se terem lembrado
alguns hei-de ver ao vivo e com eles hei-de me sentir mais velho
por cada gestro, postura, acto distinto ao que antes vira
Cada mudança - deles - há-de me dar o sentido que o espelho
diariamente interrogado não permite
do hábito que aos olhos dá inibindo-os
Hão de me cantar contar histórias ouvir as minhas
dizer em que xs e ys e talvez zs mudei
Tudo vai ser como antes, tudo vai ser diferente
e eu só sei do dia em que tudo vai acontecer.