Mais um. O meu primeiro. (brainwasherpt@hotmail.com)

quinta-feira, setembro 30, 2004

No comboio (outra vez)

Antes do I

Veio ter comigo como o velho que pediu a àlvaro,
E, cm eles, simpatizámos só pelo olhar.
Soube logo que se tratava de miriam prostituta heroinómana,
Só pelo seus olhos tristes e corpo pisado pelos dias o vi.

Era Miriam, puta e drogada, chanada da vida
(Detesto usar termos que tornam coitadas as minorias)
Perguntei-lhe, sabendo a resposta, o motivo da sua decadência
“Foi o charro meninos de hj em dia”. Coitada dele, porque mentistE?
A mistura de tabaco só te fez esquecer o q n querias lembrar:
A tua vida triste que só faz sentido pq traz alegria a quem não a tem.

Quiseste esquecer mais e mais rapidamente
Os alveolos eram uma pausa não justificada
E o sangue era a razão de tudo.
Corrompeste-o e com ele foste tu...

Miriam não sejas ingrata, eu também sou triste na vida.
É a que tens, não a podes mudar,
E és fraca ao ponto de acabares em dias.

I

Não apanhei este comboio e não, não me atrasei.
Não vou a lado nenhum e, se chegar, as horas não interessam.
Não o quis fazer; o que são 15 minutos? O que valem para mim?
O tempo que vai passando é o que eu subtraio ao que me resta

Entretanto outro vai chegar e o doente de sida
Que aparece mal ele pára
Vai pedir de novo às caras que tantas vezes o viram.
Merda ,ele se tem o que tem é porque teve algum prazer
O único prazer que tive hoje foi saber que perdi 15 minutos
Não peço ajuda a ninguem, o meu orgulho é tao maior que eu...

Se olhassem, se vissem perceberiam
Nâo tenho sida, só tenho horas por passar
E só as passo sozinho.

Um cigarra acompanha mas acaba por arder
Eu não quero isto,Mas é tudo o que eu tenho.

II

Sou quadrado por dentro e por fora
Tenho faces paralelas e perpendiculares
Mas, entre elas, estão vertices que ng compreende.

Tudo o que quero não está ao meu alcance
Sei o caminho mas é curvo e os meus lados não mo deixam percorrer
Entalo-me e acabo por voltar p’ra trás.
Conhecendo o que só em parte pisei.

Sei o que quero
Mas nao o posso ter
Sei
Mas sou assim
Se não fosse
Não era.
E se fosse,
O que seria?

III

Não preciso de ópio e sou lúcido
Sou fraco mas não fraquejo como um fraco
Podia esquecer o que me faz, subindo ou descendo um degrau
Mas foi este que me deram.
Já sou cobarde ao ponto de escrever;
Pq será que só digo ao papel que, por ser nada, nada me diz?
Pq?
Já nem as histórias da maria fazem sentido
Fosse tudo tão simples como ela mostrava,
Só me recordo mas já nao sinto.

Porque tive de crescer mesmo que tarde?
Porque não sou ignorante como aqueles que abomino por serem felizes?~
Porque?
E digo eu que sou bravo por aceitar...
Não serei antes estúpido?

Não me deêm ópio que eu não quero
Não me deem alcool que vomito
Tenho o que é suposto ter...

Espero,
Espero
Espero.
Um dia virá o fim.

IV

Cercam-me pessoas que desconheço;
Nao sei se são feias mas são brutas
E acharem-se não brutas só as torna mais.

Não as compreendo e por isso compreendo a sua felicidade
Falam de merdas e por isso não sabem que a vida é o que o é.

Ignorantes,
E eu invejo-os.
Têm merdas e eu só folhas
Que a merda me fazem lembrar tenho.

Invejo-os

Chorassem por viver e não por merdas da vida
Doesse-lhes o corpo por respirar e não por não o fazer

Invejo-os,
Não sabem o que têm
Invejo-os,
Desde a partida.

Depois do IV

Raramente falo de linhase, se o faço, refiro-me só as que eu compus.Sou nostálgico ao ponto de uma cançao nao bastar
De querer mais que uma simples lembrança.

Quase todos os dias ando de comboio
Se olhasse pela janela veria tão pouco igual
(no fundo só o que é imóvele ,do imóvel, só me interessam as memórias)
O caminho esse é que é o mesmo
Embora oxide ao longo dos anos que passam.
No fundo é como eu, como nós, vamos sempre no mesmo sentido
A idade só nos traz outra cor
E só uma porrada nos faz mover.

Raramente falo de linhas
Podia ser a de Cascais; é a minha.


(30/09/2004) - Alguém que não eu.

segunda-feira, setembro 27, 2004

O que mais me fode é que depois de tudo sou o mesmo. (Só aprendi mais uma lição).

Já agora, alguém me quer? (Leio o financial times)
I

Sidoro está chateado mas não grita, ouve música ao berros. A bateria inspira cada linha que resulta de um batimento mais forte nas teclas do teclado imundo - cegamente conhecido. O olhar não foge do monitor como se algo fosse corrigido.

Sidoro tem olhos mas não os usa quando deve. Teve tudo à sua frente, e quase tudo o que tinha era querido por ele mas ele, por ser cego ou por simplesmente não querer ver, nunca se apercebeu. Porque é que só cresceu num ano?Porque é que procurou ser correcto e não se aproximou por se aproximar? por que não comeu do prato mesmo que só fosse p'ra provar?

Sidoro chora lágrimas rubras, momentos passados acumula e se acumula é porque não quer lembrar. Ele ferve, ele grita a quem não deve e só agora faz o que devia.

Sidoro é um cobarde, Brago é um fraco e agora vai dormir...Que (re)nasça o que foi, que o bem se dilua.

II

Se não escrevo mato alguém. Se não tiro acabo por explodir...vai eclodir um ser negro vermelho por fora. Apetece-me puxar os cabelos até ficar calvo e gritar que nada me merece...apetece no fundo ser grande sem pensar nos meios, estar entre os primeiros sacrificando o que não é nosso. Nunca mais, nunca mais...Altruísmo para que, para quê os outros? Nem em mim depois disto confio...Se há destino, quero outro.

III

A guitarra pisa...pisa quem ouve e quem o merece. A guitarra ferve e mostra.

quarta-feira, setembro 22, 2004

257 (O economista solitário suspira, grita baixinho para quem o quer ouvir)

Soubesse eu a preferência dos consumidores.

256

Nasci bem e fui mal crescido. Só o tempo me salva.

255

Sinceramente, já nem me incomodo pois sei que não agi mal ou tão mal como antes. Cometo erros, sei que os cometo, mas eu próprio me julgo. Era mais fácil se houvesse alguém que mos apontasse constantemente mas, nos casos que mais me interessam, a única pessoa que o puderia fazer exige que seja eu quem o faça. Com ela errei, errei constantemente e de uma forma parva (quase tão pequena como eu sou alto) e até sei que, à maneira dela - insuficiente para mim - mo tentou mostrar. Não peço que ela mude, que aja de outra maneira; é assim que ela é e é dela que eu julgo gostar; fosse um bocado mais compreensiva, só isso.

Escrevo e pinto à minha maneira porque o que digo não me é suficiente. Ah! se ouvisse as palavras que não dei a ninguém ela veria, veria que nada é um capricho como ela diz, cm ela me mostra. Nunca consigo; a sua presença, que nunca me incomoda, desperta a descrença em mim mesmo que agora sei ser o único grande mal de que padeço ou pelo menos aquele que me afasta de quem só me quero aproximar.

Tenho medo de a beijar, tenho medo de dizer o que penso, tenho medo de fazer o que quero e não medo dela como ela percebeu.

Nunca houve um capricho, houve o que (eu) dizia mas nunca por mim.


domingo, setembro 19, 2004

254

De que me serve escrever o que não consideram meu?

Fiz-lhe um soneto e, como o outro, dei-lho. Fi-lo, sei que o fiz e não me arrependo de o ter feito; escrevesse, dessa vez, um bocado pior.

quinta-feira, setembro 16, 2004

253

Entre os seus lábios rubros e os seus corpos quentes estava uma persona que nunca interessou a ninguém. Ao contrário do resto, a sua cor era quase humana.

252

Há pescoços que apetecem ser percorridos pelos lábios que respiram o que o corpo ofega. Ah! Pousá-los delicadamente na pele que, juntamente com o resto, o forma;beijar cada sinal que existe levantado apenas parte do rubro que não quer perder o que agora gosta de sentir e treme com cada arrepio.

Apetecia-me percorrer aquele pescoço, senti-lo perto dos meus lábios, arrepiado, dado por quem o possuiu. Seria o começo do rito mais antigo.

terça-feira, setembro 14, 2004

251

Estupidamente sempre que no metro toca algo eu encontro uma relação com o que sinto na altura. Hoje tocava "and i need love..."; é engraçado, ainda agora estive sentado, desesperando e ansiando, não pelo cigarro que enrolara há instantes nem pelo copo de sumo que amargamente me mata a sede - só queria que, por ela, o telefone vibrasse, que eu soubesse que aquilo de que preciso precisa de mim.

O resto que, naquele instante, estava à minha volta consistia num aglomerado de sentimentos definidos, separados por tinta de caneta preta. Cada um deles me fazia viver o momento de uma forma diferente.

Esperei,
Esperei,
Esperei,
e não vibrou.

250

Estou mal disposto como nos dias em que vou p'ra lx para ter aulas; é p'ra lá que eu vou, mas vou receber € em vez de sermões sobre o que a moeda representa.

Ao sair de casa deu-me o 1º enjoo. Achei-o devido ao leite da maria, que tanto custa a digerir, e não à minha incapacidade de controlar ânsias. Fui até ao comboio parando uma vez para aliviar o estômago.

Parti à hora que me comprometera e cheiro nauseabundo estava nos meus dedos. O comboio marcava à medida que avançava mais um aperto no estômago. Escrevo p'ra me distrair...até oeiras funcionou; vou começar a desenhar.

249

Hoje o Orfeu mulher revelou-me, numa das frases que de uma forma melodiosa compõe, que qualquer dia a vida "vai exigir mais que um papel". Eu sei-o; mas qualquer dia exijo alguém que os tenha lido e compreendido a minha forma de ser.

Sidoro não é má pessoa, Sidoro não é desonesto, Sidoro até é bem simples. Egocentrismos à parte - tentem compreende-lo como uma criança que mal sabe pisar o solo que por vezes se levanta para depois cair.

248 (K@T IS B@CK)

Penso A, sinto B, faço C. Por assim dizer estou cruzado.

segunda-feira, setembro 13, 2004

247

Nem querendo ouvia o segredo púrpura. O seu nariz de pinóquio criava uma distância impossível. Se ela não visse, se ela só ouvisse, era tudo mais fácil e óbvio; como o céu azul sobre a terra com um verde estranho.

246

I had never seen her so happy 'til that day...E assim começa um texto que talvez nada tenha a ver com isso.

Uma amiga (acho que já lhe posso chamar isso) escreveu que a lisonja (se é a nós que se dirige) alimenta o nosso amor próprio. É verdade como todos, de certo, consideram. P'ra mim, a melhor forma do manter vivo é sentir que alguém gosta de nós. O problema é quando quem gosta sente que o que sente não passa de um substrato ao ego.

I had never seen her so happy 'til that day. Quando se soube, um deixou de ter, o outro de sorrir.

sábado, setembro 11, 2004

245

Revi-a finalmente. Labão, por fim, me mostrou a única filha que eu gosto de ver. Parece que o tempo que esteve distante a tornou mais bela. Falei-lhe sobre o texto que a sua irmã lhe levara tentei falar mais mas, segundo ela, como eu, é tímida. Não sabia o que dizer mais, tive gestos infantis (parecia a criança que não sabe enfrentar um adulto) e, para não parecer mal, fugi.

Passei por ela mais duas ou três vezes e acho que me sorriu. Não estou certo, desviei o olhar...Quando saí, disse-lhe adeus.

quarta-feira, setembro 08, 2004

244

Os três cavaleiros sairam da carruagem subterrânea com a pressa de um atraso inexistente. O mais alto (eu) e o que, por nome, é estrangeiro viram-na e, os dois, consideraram-na um exemplo da beleza eslava. O outro moveu-se ainda mais apressadamente: não a vira e queria saber quem era...sem saber assumiu. Era metrossexual.

243

"A man does not like to feel he has wasted his time. And, if he really is a man, a goodbye is a goodbye."

O Barros atirou isto ao ar nunca pensando que um dia faria assim.

242

"Tu estás livre e eu estou livre
e há uma noite para passar
porque não vamos unidos
porque não vamos ficar
na aventura dos sentidos"

Era tão evidente. Estavamos longe de tudo e não havia nada que nos prendesse à capital de um país que, cada vez menos, vejo como meu. Foram tantas noites aquelas em que te tive perto. Aproximava-me sempre em vão; deixavas-me cercar-te mas eras intransponível como as muralhas de Tróia e Ulisses revisitado não é cabrão como o que o inspira.

Apetecia-me sentir-te e era evidente. Sentia que tu também o querias mas a nossa racionalidade afoga o instinto e extingue aventuras feéricas.


"tu estás só e eu mais só estou
que tu tens o meu olhar
tens a minha mão aberta
à espera de se fechar
nessa tua mão deserta"


Tu estavas triste, qualquer um o via. Na tua cabeça não havia mais que fragmentos de raciocínos que noutra altura talvez tivessem significado; era tanto ao mesmo tempo e tu, nunca parecendo, eras frágil. Eu queria-te, ansiava todos os instantes em que mais ninguém nos via para, à minha maneira e, de acordo com as tuas cedências, te percorrer. Tu tinhas-me a mim e eu não tinha mais que uma estátua imóvel que por vezes aquecia. Nunca pedindo ter-me-ias a teu sempre que triste a tua voz voltasse de longe...parvo não vi que a tua mão deserta estava por uma questão de escolha, de espera, de pensamento (quando quisesses terias a minha).

"Vem que o amor não é o Tempo
Nem é o tempo que o faz
Vem que o amor é o momento
Em que eu me dou e em que te dás"

Foi rápido admitamos, mas o tempo não passa de uma medida que nada de exacto tem. As coisas surgem no seu tempo e nunca por este se acumular. Amor? Nunca existiu no não humano. Só existe quando há reciprocidade: quando os dois dão; quando os dois recebem.

"Tu que buscas companhia
E eu que busco quem quiser
Ser o fim desta energia
Ser um corpo de prazer,
ser o fim de mais um dia"


No fundo querias alguém, alguém que não eu. Não percebi a segunda parte da frase anterior. Pensei que quisesses os pequenos gestos que te tinha para dar; aqueles que só se dão a quem realmente importa. Não foste o fim dos meus gestos foste só o seu fim.

"Tu continuas à espera
Do melhor que já não vem
Que a esperança foi encontrada
Antes de ti por alguém,
e eu sou melhor que nada"

Acho que o problema é este. Disse-to falando para ela enquanto os meus sentidos aos poucos se adormeciam: as mulheres não gostam de sentir que se sacrificaram em vão. O homem é diferente; eu sou diferente. Aquilo que tu não és pega no tempo perdido, gasto, atirado ao vazio e, ao invês de justificar um maior sacrifício, lamenta-o.
Eu sou melhor que nada; sei que sou melhor (e tu sabes que comparação está aqui a ser feita). Acredita: que seja p'ra ti algo que só a fé nos permite ver.

"Vem que o amor não é o Tempo
Nem é o tempo que o faz
Vem que o amor é o momento
Em que eu me dou e que te dás"

E insisto. Ao mesmo que se aprenda isto.



241

A sua vida era cor de rosa. Não tinha significado: não sabia o que era sofrer por algo e nem sequer temia. Ela ria de tudo e o riso não era cruel. Ao longe, alguém, supostamente fiel, lançava um olhar macabro. Era um cabrão e ela era só mais uma.



A vida tinha a cor rosa
Era amarela tão forte
Não sabendo tinha a sorte
(Não ousando talvez possa)

Era tudo cor de rosa
Alguém, de mal, o viu
As mentiras ela ouviu
Nunc'houve cores na fossa.



300 + qqr coisa (memórias)

So esperei uma vez por ela naquele aglomerado comercial. Ela, a meu ver, esperava-me em qualquer parte (só o vejo agora). Chegou, nessa vez, um pouco atrasada e eu não me importei. Ela cansou-se de esperar que eu fizesse algo...nunca o fiz - somos altos mas as nossas alturas são diferentes.

Ironicamente esta a oeste de tudo; Onde o sol nasce primeiro, tudo cresce mais cedo.

segunda-feira, setembro 06, 2004

240

São quatro da manhã certas. Sidoro está exausto. Sidoro está a tornar-se ele mesmo.

São quatro da manhã e dois minutos: ele vai dormir e sonhar. Ao acordar esquece-se de tudo o que não será real.

São quatro da manhã e três.

239

O Pedro tem um blog. O blog tem um nome giro; como quem lá escreve tem sentido (às vezes complicado) e fala de tudo um pouco. Ele é Rasca como nós. Gosto muito de o ler, tal como gosto muito do meu amigo, embora confesse que às vezes sou preguiçoso demais para o ler a fundo - talvez até seja um bocado egoísta já que exijo muitas vezes que torne tudo mais simples (logo eu que sou um complicado e que tenho o meu amigo sempre para me ouvir e que, muitas vezes sem pedir, tenta descodificar os meus escritos irracionais).

O Pedro é um bom amigo e o seu blog é um bom blog. Mesmo que sejam egoístas nunca serão como eu (um em muitos) só mais um.

238

A mana escreve. A mana desenha. A mana é como eu, embora a ache melhor.

237

Ao longe um pássaro respondia ao canto de outro que já lhe respondera antes. O carro estava imóvel (ou assim me pareceu - um físico fez-me acreditar que estamos sempre em movimento) era o apoio das minhas costas que ainda sentiam o peso de me ter sentado de pernas cruzadas para comer peixe vendido a um preço bastante inflacionado.

A minha boca ainda sabia a saké e a tabaco holandês. O sushi tinha um sabor leve e o flurry só deixa marcas se o comermos vezes suficientes. Não pensei em saúde, ainda sou novo demais para isso, pensei no que sou e, consequentemente, em tudo o que me define - só depois entrei no carro sem fechar a porta. Acho que cresci; estou mais perto do homem que disseram que um dia eu seria. Olho para trás e sinto que agi mal, que dei passos desmesurados e que muitos mais ficaram por dar. Só me magoam os inspirados na minha falta de visão.

Por que não vi aquilo?Porquê?Não chorei, pensei até me levantar e limitar o meu espaço.

236 (De noite talvez perto do mar)

Enquanto eles faziam das suas pûs-me por instantes de parte. Como o fumo percorri a noite e, enquanto me dividia, deixei de ser visto. Peguei no telemóvel por instinto e só o larguei depois de saber que a mensagem estava pendente:

"Um bjinho grand grand grand de boa noite para a ùnica com quem as quero passar. Amanhã vou estar em lx, qqr coisa kolmi. *" (Foi +/- assim só não estou certo do *).

Pensei um bocado. Vi que ansiava beijos que ficaram por dar e uma voz que ainda não ouvira nesse dia; vi e ansiei por eles e por outras pequenas coisas. Levantei-me e conversei supostamente sério - estava noutro lado, era o monóxido que percorria os seus pulmões quase dormentes.

235

Lembro-me que chegou de vermelho. Por fora estava como eu me sentia. Encontrámo-nos na casa com o nome do farol seu vizinho. Nunca a vira assim; nem sequer conseguia associar tal cor à sabedoria. Veio de surpresa pouco depois de eu ter perguntado a uma alfarrabista moderna quanto custaria o "*Paço de Sintra" em versão original: foi ela que me reconheceu.

Tomámos um café e, por ter sido há algum tempo, sei que não o fiz por hábito - ela era a desculpa. Falámos; dissemos merda que só serviu para fazer tempo. Levantámo-nos e fomos para uma zona menos movimentada (daquelas que aliviam os compromissos inexistentes) e, cada um do seu jeito, se entregou.

Repetiu-se o processo até se julgar suficiente. Repetiu-se até mudarmos.

domingo, setembro 05, 2004

234

Eram dois; eram três; eram quatro. Um foi, ficaram três. Esses formaram um triângulo isosceles cujos lados iguais eram bem maiores que o outro. Ao fundo ficou um vértice.

sábado, setembro 04, 2004

233 (A short summer story)

I

Le dernier jour - ou est-il le premier?


II

Entre eles a distância do que toca;
Distintos eram os seus leitos; Tinham
Talvez mais que um só sonho em comum, riam
talvez das mesmas p'quenas coisas. Possa,

Se assim Ele entender, sentir a costa
onde anseio tocar. Ah, nunca veriam
Sem o tipo de fraque não seriam
Mais que uns átomos dispersos sempre às voltas.

A janela fechada não esteve,
Ela não se mexeu, não me fugiu,
Nem um pequeno gesto ela viu

(nem um só passo do que foi jurado).
O mesmo não sou - estou mudado-
Só de bravura tenho ainda sede.

III


Platonico é o que sou
acumulo os sonhos parvos
sou fácil, aceito o dado,
quando eu nunca me dou.

Choro só pelo não feito
pelos passos que não dei
só o faço quando sei
que eu podia tê-lo feito.

Canso os outros mais que eu
sofro quando outros magoei
Nunca me dei a ninguém;
O querido é quem temeu.


IV

O seu cheiro é tão intenso, reconheço-o a metros de distância - os mesmos metros da minha demência. Fico louco. Sei-a perto; fala para longe de mim. O seu cheiro é tão intenso, propenso é ao sonho - não disponho do que anseio mas o cheiro e tão intenso...Eu não desço mais: são letais as subidas, as descidas são constantes. Incessantes as melodias de longe.


V

Um dia no jardim:

Àgua,
o verde da relva,
o vermelho da flor desabrochada.
O descanso,
O nada.
O medo.


VI

Não estou chateado. Estou azul como sempre (só os lábios estão da cor da carne que anseia ser devorada).


VII

Gestos infantis,
um cheiro intenso
propenso
ao sonho.
Conversas p'ra longe
inaudíveis...
Fraca presença.
Lábios sensíveis
Dispersos no sonho
Rodeiam mas não tocam
Parece que deles fogem
os que são de outrem.
Apetece-lhes percorrer
conhecer
outros...
C'oa fuga
Acaba o sonho.


VIII

Ele estava fulo, chateado. Eterno palhaço...Ele foi ridicularizado, usado, por quem o usou.


IX

A paciência tem limites que não é o homem que define - faz-se o que se julga correcto e não se recebe o que se achar certo receber. Aguenta-se por pouco, tal como um desenho por acabar e cujo término é um frete: fica-se com uma imagem e não se chora por ser suficiente.


X

Não espero, espero que saibas,
que já me cansa esperar
não saio deste lugar
até q'eu um dia saia.

O cheiro enlouquece, longe
sempre esteve de mim
quando julguei vê-lo aqui
ele de novo enfim põe-se.

Não espero, espero que saibas,
A espera tem um limite
E eu insisto que ele existe
Quando ele chegar que saias.


XI


È subtil a fúria dele
traz um verde amarelado
Olhem p'ra ele coitado
O desejo à volta dele.

Tenta em vão ser mais coerente
Olhar p'ro lado e gritar
não o faz está a chorar
desejo fá-lo demente.

Passou p'ra folha e esqueceu
O que tinha não mostrou
q'ria gritar e passou
Só a folha percebeu.


XII

Yin e Yang. A tranquilidade e o caos. Por vezes um ganha antes de haver equilíbrio.

XIII

Prelúdio de um beijo.

Tinha o espelho atrás
Só ele reflectia,
via,
o instante.

Aproximaram-se
Fecharam-se os olhos
(os que assim ele gosta de ver)
Tocou-a
Depois mostraram-se
Beijaram-se
Às escondidas
De tudo o que vê...

Porquê?


XIV

A saudade faz com que o resto impacientemente pareça tranquilo. É estranho: sei-a a longe e anseio por ela mas, por assim ser, sinto-me calmo por dentro.

Quando sinto saudades também avermelho: desejo mais que um simples olhar.