Vivemos enquanto a pequena sala tiver espaços por pintar.
Mais um. O meu primeiro. (brainwasherpt@hotmail.com)
terça-feira, agosto 17, 2004
231
Os meninos gostam de histórias da carochina: divertem-se e não sentem o passar do tempo. Os adultos não diferem das crianças, só exigem outro conteúdo (digamos: com mais maturidade), com personagens mais realistas e de acordo com o paradigma da altura (sem saber seguem kuhn) ou então completamente fora da realidade. Peguemos na religião que uns seguem religiosamente e que, no fundo, assenta numa história mal contada e que sem fé ninguém acha verdadeira.
As histórias que imagino são outras: têm-me como personagem principal e, em cada sequela, contraceno com uma protagonista diferente; mas, como digo, não passam do que são.
As histórias que imagino são outras: têm-me como personagem principal e, em cada sequela, contraceno com uma protagonista diferente; mas, como digo, não passam do que são.
229 (O último dia da rapariga engraçada que tinha a mania de dançar no bar e cujo nome desconheço)
Soavam os tambores de guerra. Ela dançava como se se entregasse à causa. Os olhos (fechados) favam mais força ao seu acto. Mexia-se com as batidas levando-nos com ela. Era a última vez que o faria.
228 (auto retrato)
O poeta que escreve, que conta com os dedos as sílabas incontáveis na cabeça pensativa. O poeta que escreve enquanto se torna calvo ajudado por ele mesmo. O poeta e o seu mundo às cores que sente.
227
Há cores que raramente se tocam. Passam por partes paralelas e, entre duas iguais, existe outra que não elas. É cansativo, é saudoso mas, na maior parte das vezes, é assim: as fronteiras a negro são intransponíveis. Porém, em alguns casos, dá-se um fenómeno deveras estranho (não, não se tocam cores iguais): duas estranhas fundem-se e formam um meio termo. Esta, por sua vez, só está adjacente àquelas que a formaram.
226
Por maior que seja a mão há vícios que não suporta. Os limites definimos às escondidas de nós mesmos. A mesa era retábulo a oficina do que ainda não conhecia. Distraia-se da música que não queria ouvir.
225
A escada era estranha. Parecia um desenho de escher sem perspectivas. Cada degrau tinha um tom de verde e era indefinida. A parede já não se via: era azul como o horizonte que já não tocava há algum tempo. No topo o verde era escuro, era certo; foi perdendo cor como o vermelho do seu vestido.
Com um olhar estranho fita o atrás do muro.
Com um olhar estranho fita o atrás do muro.
224
Mil e uma coisas definem um homem, mil definem o anterior e pelo menos outro. Pessoas, sorrisos, beijos e até números dizem quem somos. Olho p'ra um lado; alguém parecido olha para outro.
Somos tudo o que passou.
Somos tudo o que passou.
segunda-feira, agosto 16, 2004
223 (Le premier jour en tunisie avec Holiday en chantant "you're so easy to remember (and so hard to forget)")
Cheguei julgando-me distante do que fujo. Vi o sol que só a saudade arrefecia pensado que, em pouco tempo, me seria quente. Errei. Atrás do balcão estava um diploma escrito como falava com os seus. Mal o vi percebi que por outros me chegavas.
Ah! Desde que conheço o teu silêncio que o mundo me faz recordar-te. Em Lisboa a publicidade é cirílica, ao meu lado sentam-se pessoas que o segundo nome se apelida de patronímico. Não consigo não te lembrar.
Escrevo a três horas de voo de casa. Escrevo noutro continente. Estou rodeado de mesas de metal vazias; ao fundo oiço ou grilos ou cigarras por vezes interrompidas pelas músicas tunisinas que só me fazem desejar o sítio e o momento em que te conheci. Há poucas horas precediam-nas pessoas que também falavam o teu eslavo. Não consigo, não consigo, não consigo...
Olho p'ros lados e só me lembro de ti. Fecho os olhos e anseio p'lo que quase tive.
Ah! Desde que conheço o teu silêncio que o mundo me faz recordar-te. Em Lisboa a publicidade é cirílica, ao meu lado sentam-se pessoas que o segundo nome se apelida de patronímico. Não consigo não te lembrar.
Escrevo a três horas de voo de casa. Escrevo noutro continente. Estou rodeado de mesas de metal vazias; ao fundo oiço ou grilos ou cigarras por vezes interrompidas pelas músicas tunisinas que só me fazem desejar o sítio e o momento em que te conheci. Há poucas horas precediam-nas pessoas que também falavam o teu eslavo. Não consigo, não consigo, não consigo...
Olho p'ros lados e só me lembro de ti. Fecho os olhos e anseio p'lo que quase tive.
222 (Uma questão de qualquer coisa)
Detesto as pessoas que associam a determinadas cores certos sentimentos. Detesto-as; no geral as associações são comuns entre elas porém, comigo, isso nunca sucede.
A minha tristeza é verde; um verde diluído a conta-gotas como a esperança que se esvai com cada passo errado que dou. Se espero, instintivamente, choro.
O quente é branco como a delicada capa de tudo o que aspiro ter. Tão frágil e tão visível no fundo negro que centra.
O rubro é azul como o azul que me persegue e que me queima por dentro.
As cores que sobram são restos que só uso para enfeitar.
(O detestar não é para ser interpretado como tal).
A minha tristeza é verde; um verde diluído a conta-gotas como a esperança que se esvai com cada passo errado que dou. Se espero, instintivamente, choro.
O quente é branco como a delicada capa de tudo o que aspiro ter. Tão frágil e tão visível no fundo negro que centra.
O rubro é azul como o azul que me persegue e que me queima por dentro.
As cores que sobram são restos que só uso para enfeitar.
(O detestar não é para ser interpretado como tal).
220 ((Longo suspiro) Anos dourados)
Uma vez esperei-a no Carmo. A fonte estava, a meu ver seca; as àrvores ganhavam unm verde que a noite escurecia. Olhava para a porta do convento que, em parte, ainda está de pé:---------------------------------------------------------------------------------------------------------
Dessa vez esperei-a no largo do Carmo. A noite era agradável; a fonte ainda estava seca e as àrvores ganhavam um verde que a noite e as luzes de halogénio tornavam artificial. Eu estava sentado nas escadas que levam à porta do pouco que ainda está de pé; olhava-a e sabia-a intransponível.
De súbito chegou linda. Não me viu logo. Olhei-a com o olhar de carneiro mal morto que só mais tarde me receitou (senti-me tão bem).
Depois do jantar fomos. Estava tudo na mesma.
Dessa vez esperei-a no largo do Carmo. A noite era agradável; a fonte ainda estava seca e as àrvores ganhavam um verde que a noite e as luzes de halogénio tornavam artificial. Eu estava sentado nas escadas que levam à porta do pouco que ainda está de pé; olhava-a e sabia-a intransponível.
De súbito chegou linda. Não me viu logo. Olhei-a com o olhar de carneiro mal morto que só mais tarde me receitou (senti-me tão bem).
Depois do jantar fomos. Estava tudo na mesma.
219 (A aventura no carro tom de cinza/The mighty four in the car of Miguel's mother)
A estrada levava-nos de uma ponta a outra da vila. A meio havia um pequeno trilho com as dimensões (falo de largura) do carro. Entrámos, alterados pela mente, com as luzes desligadas; avançamos pouco, ligámos o rádio e, quando a eugénia largou o machado, gritámos. Avançamos, mas só em nós mesmos: limpos por dentro éramos outros.
Saímos lentamente a apontar para o sol que deixámos de recear.
Limpos por dentro, éramos outros.
Saímos lentamente a apontar para o sol que deixámos de recear.
Limpos por dentro, éramos outros.
218 (Do corredor marista)
I
Ao voltar do norte lembrei-me da terrinha que p'la primeira vez vi aind'eu era infante de sonhos que, aos poucos, e por minha própria vontade, ficaram distantes de mim. Houve vezes em que voltei p'ra eles como o filho que retorna ao pai em auxílio mas, e só na última vez o vi, nunca fui bem recebido.
Hoje olho pa trás e tudo parece mais evidente. Sinto nostalgia; não sinto falta dos sonhos, sinto falta de sonhar.
II
Vi-a pela primeira vez tinha eu pouco mais de uma década. Era verde no meio do betão cuja superfície mudou ao longo da minha assaz infância. Era um abrigo e não cresceu como eu; por falta de senso, pareceu-me sensato.
Ao voltar do norte lembrei-me da terrinha que p'la primeira vez vi aind'eu era infante de sonhos que, aos poucos, e por minha própria vontade, ficaram distantes de mim. Houve vezes em que voltei p'ra eles como o filho que retorna ao pai em auxílio mas, e só na última vez o vi, nunca fui bem recebido.
Hoje olho pa trás e tudo parece mais evidente. Sinto nostalgia; não sinto falta dos sonhos, sinto falta de sonhar.
II
Vi-a pela primeira vez tinha eu pouco mais de uma década. Era verde no meio do betão cuja superfície mudou ao longo da minha assaz infância. Era um abrigo e não cresceu como eu; por falta de senso, pareceu-me sensato.
217 (Outra vez no mesmo de sempre)
Pessoas , mais pessoas: ninguém para mim. Desconheço-os e nem querendo anseio fazê-lo. Gentinha colada, abafada por uma vida que nunca quis. Distraiem-se no túnel, ainda mais abaixo de tudo o que os pisa: na sua vida, menos é sinal de excesso.
Erguem os braços e inundam a carruagem com o seu esforço- esforçam-se os outros para não ceder. Ao longe, um senhor mal aguenta o ar que passa ao seu colega da frente- mais de metade arrepia: amanhã vai estar de febre.
Estou quente; fico rubro lentamente; tirem-me daqui, sou louco, e isto é gente.
Erguem os braços e inundam a carruagem com o seu esforço- esforçam-se os outros para não ceder. Ao longe, um senhor mal aguenta o ar que passa ao seu colega da frente- mais de metade arrepia: amanhã vai estar de febre.
Estou quente; fico rubro lentamente; tirem-me daqui, sou louco, e isto é gente.
216 (Back to Lisbon)
Há já algum tempo que não andava de metro, que não ouvia música sem sentido e notícias que só o tentam ter. Voltei à cidade que não sei ser minha, eis-me em lx e, não como antes, só.
Fico por pouco.
Fico por pouco.
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