Tirei uma taça de gelatina do frigorífico. Não sei a que sabe, mas prefiro a laranja e foi essa que tirei. Já não comia esta sobremesa há algum tempo e, estranhamente, ao lembrar-me da minha primeira refeição no refeitório do meu colégio, inundaram-me memórias daquele tempo.
Entrei na pré-primária. Não gostei muito ao início (acho que até chorei). Rapidamente tudo mudou. Comecei a conhecer aqueles que, mesmo não tendo qualquer importância para o meu equílibrio nos dias de hoje, foram essenciais à minha formação como pessoa. Quem me aparou as lágrimas no primeiro dia foi a Ana Vera (nunca mais a vi), quem me deu a primeira sova foi o Gil o eterno protector do Luís (ainda o vejo), e o primeiro com que gozei foi o Pereira (vejo-o frequentemente). Este último usava suspensórios que eu passava os dias a puxar, irritávamo-nos frequentemente, mas hoje, puxando um pelo o outro, somos amigos.
Pouco ou nada fazia. Sempre fui solitário e entretinha-me muito inventando histórias, imaginando feitos. Por vezes tentava jogar futebol mas, desde que os meus olhos me transmitiram somente cores verdes durante meia-hora, devido a uma colisão com uma bola, que me deixei disso. Também havia um conjunto de ferrinhos que eu inúmeras vezes tentei tocar era mais fraquinho que hoje e só com um impulso de outrém conseguia chegar ao ferro mais alto: lembro-me que ficava tão feliz e, ao mesmo tempo, com vertingens - a ajuda era irrelevante eu chegara lá.
Hoje, se passar ao lado daqueles ferros, vou vê-los de cima; só me conseguirei pendurar se dobrar os joelhos. Com o tempo o que antes achava colossal passou a ser um simples brinquedo da infância. Cresci, sou outro, o recreio é outro, e os brinquedos também o são. Quando eu era pequenino nao chegava aos ferrinhos que hoje vejo de cima; lembro-me e tenho saudades.
Mais um. O meu primeiro. (brainwasherpt@hotmail.com)
terça-feira, junho 29, 2004
quarta-feira, junho 23, 2004
205
Vês menos
mas vês;
e isso basta-te.
Tiraram-te a perspectiva
vês tudo plano
mas isso
nunca te interessou.
Tens o mundo
sobre ele cai o teu olhar
E isso basta-te
basta veres.
Penélope desfaz o manto
que de dia teceu.
Penélope esperava Ulisses
Ele se nao viesse
era na mesma esperado.
Penéope esperava
Ulisses tentava
chegar.
"Onde estás?"
-Grita ele em cada passo
"Onde estás?
Onde estás?
Onde...
Onde..."
Enquanto a procurava
Elas foram encontradas
surgiram entre as àguas
perdidas.
O seu canto chamava
Clamava ao Id...
Porque lhes resistiu?
Porque só que ela?
Sob a ovelha esconde-se;
Ela,
tão meiga,
não faz adivinhar.
Toca-lhe,
É macia
aproxima-te
aquece-te.
Por baixo esconde-se o lobo:
Come-te
Quer-te.
Ela amava-te
Deu-te a taça do néctar.
Era linda a musa
Omni (quase) sapiente;
mas tua via-la
de outra forma:
"dizias que não",
-Não que não possas-
mas assim achaste.
Viraste as costas
e foste.
Chorou,
Viu-te cinzento.
Queriam entrar na pedra
Esconderam-se na madeira que enformaram
Esconderam-se,
Não os viram,
Entraram.
Por dentro ruiu
o que se fechou.
são heróis
OS que ficaram.
Nos campos que o rei lavrou
o rei estrava prostrado.
Mãos ao alto,
a saudade que não é grega sentida
"Não deixo ìtaca
Não deixo Penélope"
Só depois da partida
os encontraste.
A bruxa era rameira
usou-te.
Fez o que antes fizeras
Sentiste-te o porco que foste
E que ainda eras.
Andaste;
esqueceste;
eras tu
de novo.
Gritava
Gritava por niguém.
Riam-se todos.
De que te servem as velas
se o vento
não sopra?
De que te servem os remos
se não há braços?
Revoltas?
De que te serve
o que não podes usar?
Olha,
olha o chão
Faz
o que podes.
207
O passado está em nós; só deixa de fazer parte do nosso dia a dia se nós o permitirmos, se virmos que o futuro somos nós quem o faz baseados no que pisámos e inspirados p'lo que nos pisou.
terça-feira, junho 22, 2004
124
Acumula-se no canto empurrada por memórias; prende-se -não é o momento certo e, no fundo, é tímida. Está à espera que eu esteja sozinho ("espera um bocadinho está quase"). Guarda-se: a conversa durou...despedidas sem retorno ("espera só mais um bocadinho está quase prometo"). Cheguei, falei...("n te xateies foi só mais um pouco"). Finalmente entrei, saiu e chorei.
terça-feira, junho 08, 2004
205 Algo fita do escuro
Fecharam a porta que eu só vi um lado. No exterior a escuridão, em parte, era consumida pela luz dos advogados que gostavam de mostrar que o eram; sentei-me e começou a espera.
O espaço foi-se reduzindo. Eu, tão maior que antes, não me conseguia alargar e, se me tentasse erguer, não iria além da tentativa.
Tentei escrever mas, pela primeira vez desde há muito, não tinha como o fazer...o silêncio e o nada que ele implica entraram em mim de rompante: quase que enlouqueci.
Abriu-se uma porta. Era o advogado que restava que saía e que com ele levava a luz. Tudo piorou. Os altos que eu já conhecia da parede que, aos poucos, aquecera passaram a existir só ao meu tacto: só ele agora me fazia companhia.
Um piano começou a soar melodias sem nenhuma relação. Quem tocava estava como eu. O escuro lentamente ganhou forma: o que já não via apareceu. Agarrei-me como se de outra pessoa me tratasse senti que outra qualquer me abraçava: no feérico a solidão cessou.
Entretanto fartei-me e com esforço ergui-me. Com o toque de um dedo surgiu a luz com um clac. Desci e, depois de falar com estranhos para matar tempo e de ouvir intimidades que nunca perceberei, voltei a subir. Repetiu-se o ritual até a porta se abrir.
Já não há mais a contar (e assim se findou uma história).
O espaço foi-se reduzindo. Eu, tão maior que antes, não me conseguia alargar e, se me tentasse erguer, não iria além da tentativa.
Tentei escrever mas, pela primeira vez desde há muito, não tinha como o fazer...o silêncio e o nada que ele implica entraram em mim de rompante: quase que enlouqueci.
Abriu-se uma porta. Era o advogado que restava que saía e que com ele levava a luz. Tudo piorou. Os altos que eu já conhecia da parede que, aos poucos, aquecera passaram a existir só ao meu tacto: só ele agora me fazia companhia.
Um piano começou a soar melodias sem nenhuma relação. Quem tocava estava como eu. O escuro lentamente ganhou forma: o que já não via apareceu. Agarrei-me como se de outra pessoa me tratasse senti que outra qualquer me abraçava: no feérico a solidão cessou.
Entretanto fartei-me e com esforço ergui-me. Com o toque de um dedo surgiu a luz com um clac. Desci e, depois de falar com estranhos para matar tempo e de ouvir intimidades que nunca perceberei, voltei a subir. Repetiu-se o ritual até a porta se abrir.
Já não há mais a contar (e assim se findou uma história).
segunda-feira, junho 07, 2004
204
Quem me conhece sabe que tenho sempre onde escrever e onde desenhar: preciso de me expandir constantemente mas só quem me conhece o sabe.
Todas as folhas que escrevo ou pinto são parte de mim; se as dou é porque me estou a dar e só me dou a quem eu julgo gostar (há casos em que me arrependo).
Tenho um caderno que tinha 120 folhas. Só me lembro por imagens.
Todas as folhas que escrevo ou pinto são parte de mim; se as dou é porque me estou a dar e só me dou a quem eu julgo gostar (há casos em que me arrependo).
Tenho um caderno que tinha 120 folhas. Só me lembro por imagens.
quinta-feira, junho 03, 2004
203
O Sidoro está triste e embora, numa primeira análise, tal sentimento resulte do output do exame, não residem só nesse ponto as suas causas. Em termos gerais nada está como ele acha que deveria estar: está cansado de tanto e está cioso de()mais.
Peguemos no dia de hoje. O exame (até) correu bem mas, logo de seguida, um conjunto de situações aproximaram do piso o que, acima do rodapé, já estava. Não, não foi a fralda dentro das calças (até o elogiaram por isso), foi o silêncio pautado por raciocínios inconstantes fundamentados em nadas que do silêncio provinham; foi a reunião de merda (e este adjectivo é o que melhor se aplica) acerca de algo que as pessoas falam sem saber.
Peguemos no dia de hoje. Esqueçamos por instantes os que lhe antecedem. Peguemos no dia de hoje...Peguemos e esqueçamo-lo como o resto. Como disse a que tem meu sangue "Anima-te".
Peguemos no dia de hoje. O exame (até) correu bem mas, logo de seguida, um conjunto de situações aproximaram do piso o que, acima do rodapé, já estava. Não, não foi a fralda dentro das calças (até o elogiaram por isso), foi o silêncio pautado por raciocínios inconstantes fundamentados em nadas que do silêncio provinham; foi a reunião de merda (e este adjectivo é o que melhor se aplica) acerca de algo que as pessoas falam sem saber.
Peguemos no dia de hoje. Esqueçamos por instantes os que lhe antecedem. Peguemos no dia de hoje...Peguemos e esqueçamo-lo como o resto. Como disse a que tem meu sangue "Anima-te".
201 (errata)
Os posts anteriores são uma simples criação da mente artista do autor deste blog. No fundo ele não se considera inferior apresentando até uma auto-estima por vezes corrosiva. Porém é isso que infelizmente ele transpõe; os outros, incapazes de o perceber, exigem que seja ele (sim só ele) a compreendê.los. Não considera o fiel leitor tal requerimento ridículo? Sidoro é o sidoro, sidoro até gostaria de mudar um pouco de ficar mais ao alcance do comum; mas não consegue.
Há quem alegue que é mais fácil descer um degrau que o subir. Mas, se as escadas forem descobertas, quanto mais alto estivermos melhor será a nossa vista. Por que motivo descer se só com a subida o que está mais baixo ganha? Assim fala sidoro.
Sidoro gosta. Sidoro se diz que gosta é por que está a ser sincero. Se Sidoro se comporta de uma maneira estranha é porque Sidoro assim é. Se gostam de Sidoro têm de gostar dele da maneira que ele é tal como ele gosta de quem gosta por gostar da maneira de quem é gostado.
Se Sidoro pergutna é porque não sabe. Se Sidoro devia saber e não sabe digam. Se não respondem ele nunca vai saber. Sidoro escreve mas escreve só sobre o que ele sente e muitas vezes, antes de estar certo, Sidoro não sabe que está certo e, antes de estar certo, não escreve sobre o que sente. Agora não exijam que Sidoro perceba o que sintam, porque se lhe custa perceber o que sente e resolve essas dúvidas perguntando a si mesmo (porque é ele mesmo que sente), imaginem o quão moroso é o processo se às suas questões não encontra resposta.
Embora Sidoro inquira e insista nas questões raramente encontra respostas. O que sucede é uma rebaldaria: chatices, discussões, gritos (mesmo que inaudíveis), e estaladas (na maior parte das vezes mentais). Sidoro chora por dentro: "por qu'é que tenho de magoar aquela que me importa?Por quê?". Quantas vezes não tentou responder a esta questão, quantas. Numa fase mais pessimistas as respostas foram aquelas que antecederam este post e que vos digo são ridículas. Porém hoje em dia Sidoro percebe que o problema está na falta de diálogo que, para Sidoro, é essencial.
Portanto advirto. Se Sidoro pergunta, tentem responder. Se Sidoro pergunta é porque precisa de saber. Se Sidoro anseia por uma resposta é porque não quer confusões.
Há quem alegue que é mais fácil descer um degrau que o subir. Mas, se as escadas forem descobertas, quanto mais alto estivermos melhor será a nossa vista. Por que motivo descer se só com a subida o que está mais baixo ganha? Assim fala sidoro.
Sidoro gosta. Sidoro se diz que gosta é por que está a ser sincero. Se Sidoro se comporta de uma maneira estranha é porque Sidoro assim é. Se gostam de Sidoro têm de gostar dele da maneira que ele é tal como ele gosta de quem gosta por gostar da maneira de quem é gostado.
Se Sidoro pergutna é porque não sabe. Se Sidoro devia saber e não sabe digam. Se não respondem ele nunca vai saber. Sidoro escreve mas escreve só sobre o que ele sente e muitas vezes, antes de estar certo, Sidoro não sabe que está certo e, antes de estar certo, não escreve sobre o que sente. Agora não exijam que Sidoro perceba o que sintam, porque se lhe custa perceber o que sente e resolve essas dúvidas perguntando a si mesmo (porque é ele mesmo que sente), imaginem o quão moroso é o processo se às suas questões não encontra resposta.
Embora Sidoro inquira e insista nas questões raramente encontra respostas. O que sucede é uma rebaldaria: chatices, discussões, gritos (mesmo que inaudíveis), e estaladas (na maior parte das vezes mentais). Sidoro chora por dentro: "por qu'é que tenho de magoar aquela que me importa?Por quê?". Quantas vezes não tentou responder a esta questão, quantas. Numa fase mais pessimistas as respostas foram aquelas que antecederam este post e que vos digo são ridículas. Porém hoje em dia Sidoro percebe que o problema está na falta de diálogo que, para Sidoro, é essencial.
Portanto advirto. Se Sidoro pergunta, tentem responder. Se Sidoro pergunta é porque precisa de saber. Se Sidoro anseia por uma resposta é porque não quer confusões.
200 Resumo (é o post 200 merece-o)
Do alto do monte, algo ou alguém superior, nunca em tom de profecia, proferiu :
-Azar daqueles que o amam. Pena daquela que é amada.
(o "o" sou eu)
-Azar daqueles que o amam. Pena daquela que é amada.
(o "o" sou eu)
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