Página 3
I
Usava rosa por vezes
(não me lembro do seu cheiro
sou um eterno constipado)
Como as rosas tinha espinhos
parecia frágil mas esse era o castigo
daquele que nada percebia.
O vento passava mas só passado
é que ela um pouco se vergava
não queria mostrar que era fraca
e por nunca o mostrar nunca o foi.
Era e ainda é tão vistosa
as estações passam lentamente
e, por isso, lentamente a cor cai...
Não interessa, mesmo que caisse depressa
o vento que passa não leva
- o que suporta não são pétalas.
Usava rosa por vezes
Como uma rosa era
como uma não se deixava colher...
O vento passou mas não se dobrou
ao vento não mostrou que havia fraqueza.
II
(...)Arrependo-me e arrependo-me de o fazer - e o ciclo continua(...)
Página 14
O sol não aquecia o coberto
O sol não entra na pedra...
Fechou-se
isolou-se do mundo
estava em luto
de si mesmo.
Conheceu o negro
Mas sem o conhecer vestiu-o
- perdeu aos poucos a luz...
Os olhos acostumaram-se
os olhos do nada passaram
a ver onde não viam...
O corpo, aos poucos, gostou
ele não receou
até vir luz.
Voltou,
Os olhos queimou
o branco do corpo vermelho ficou...
Os medos voltaram de um canto
Fugiu de novo
- quis o quebranto-
aos poucos voltou a tê-lo.
Paginas 26 e 27
I
Enquanto há o branco
há onde escrever
A escrita é suja
inunda o que não está conspurcado...
Um a um cada som
- pq é isso que cada parte representa-
como uma nódoa expande o poema
que, por não ser branco, é sujo.
Ainda falta só escrevi pouco
não falo de monstros ou de impérios
não sou mais alto nem maior que os outros
-embora de facto o seja.
Eu sou um parvo um cobarde
alguém que nem de fraque enfrenta.
Escrevo um poema sem sentido qualquer
pq tenho o branco por preencher
(E é cada vez menos
e cada vez sai mais depressa
a linha quase certa
aos poucos fica torta
mas não me importa
pq escrevo e enquanto o faço não desço
mais em mim próprio)
A propósito, sou egoísta
sou um despotista onanista
e só o sou por preguiça
(há quem diga que é assim)
Vejamos um exemplo:
ela era tão engraçada
e não falo só de cara
era uma pessoa que interessa...
Tinha olhos não cegos e azuis
Tocava-me como o vento nos pauis
e como eles era incerta
Tinha tudo
e é por ela que eu inundo
esta pureza de merda.
Deixei-a passar pelos dedos
tinha medo como uma criança
como aquela que não avança
pq atrás da porta está o que não vê.
PQ?PQ?PQ?
Há quem diga que eu podia
Havia també quem o dissesse
mas como hoje eu não ouvia
eu não descia onde quero.
e as que há são lixo
como isto que eu escrevo
(no fundo não faz sentido
trago comigo e cuspo
e não numa poltrona qualquer!)
Quero uma mulher
quero possui-la
quer que ela se entregue
a esta mão que percorre
(há quem diga)
de uma maneira desejável.
(Tenho de ser em algo prestável
que o seja no animal)
Não sou normal
sei que não o sou
não sei p'ra onde vou
mas sei onde quero chegar
Quero estar acima dos outros
quero entre os mostros ser o maior
O pior? O pior é isto
Quase que não sinto
(as mãos estão dormentes
as mãos que sujaram)
Ah! não param, não cessam
ainda há branco
ainda há algo por dizer
mesmo que só seja por dizer
mesmo que não seja p'ra mais nada...
Pára, digo eu, pára...
mas o que eu digo só eu oiço
sou um fraco
não páro
enquanto houver branco por sujar.
II
Poema da chegada.
Estou quase a chegar
mais nao vou escrever
vou andar
vou seguir o caminho
o trilho
de betão.
Vou carregar num botão
ligar o computador
vou pedir por favor
e com ng falar.
Estou perto
(será que faltam estações?)
não não me interessa
quanto menos falta mais cedo chego
e eu não quero chegar.
Quero escrever
Ah! não pares
circula sem fim
Não pares , nao pares
ó comboi de metal
já nao movido a vapor
não pares por favor
não quero cair.
Pagina 92
O primeiro
Nunca conheci um verde diferente
àquele que eu pintava sempre diluído em água
concentrada
em cloreto de sódio
Nunca vi um verde dif'rente
- Ele é sempre o mesmo.
Diafuno tudo passa por ele
nada cobre e nada limita
pinto com tantas cores
sendo nenhuma a mesma
só é assim c'o verde
só ele não é diferente
só ele é o mesmo.
Tento tocar-lhe mas por ele os dedos passam
tento ouvi-lo mas nada ouço
talvez nada diga
talvez a nada sinta
talvez...
É sempre o mesmo verde
Não sei qual é.